Ali, deitada sobre uma manta florida, ao som de sua playlist
preferida, semicerrou os olhos. Ainda podia ver a luz laranja do entardecer
invadir o quarto, dando a ele um aspecto quase místico. Seria um dia adequado
para acender um incenso, mas não havia nenhum por ali. Deixou a música envolvê-la
e mergulhou num som cada vez mais distante, até que seus olhos se fecharam
completamente.
Sentado numa fonte em Paris, ele observava a cidade. Quem
eram aquelas pessoas? Fechou os olhos por alguns segundos, mas, de alguma forma, havia escurecido. Uma
brisa leve balançou seus cachos e se emaranhou por entre sua barba. Por mais
que aquele olhar observasse o mundo, o que ele realmente observava era o
próprio interior. A solidão era gostosa e dolorosa demais. No fone de ouvido,
uma música tocava... meu amor, essa é a última oração
para salvar seu coração. A música se tornou mais alta e
parou de repente. Ainda pensava sobre o sonho que acabara de ter. Ela tateou no
escuro, em busca de realidade. Mas havia transcendido. Ou talvez sido parte de
um sentimento que perpassou situações, pessoas, continentes e tempo. Que mudou,
se adaptou e agora vive como parte do quem era.
O celular notifica uma
mensagem. Um rapaz, sob o céu de Paris, digitou: “advinha com o que sonhei?”.
É, eu sei.